O Lula de 2023 será um upgrade do Lula de 2008
Por Luis Nassif, jornalista, noGGN
O mercado é um bicho instável, que raramente se move por raciocínio. Ontem, houve evento com Lula e vários ex-presidenciáveis, com a participação de Henrique Meirelles – que foi candidato a presidente com 1,2% dos votos, perdendo até para João Amoedo e Cabo Daciollo.
Imediatamente o mercado acreditou que Meirelles deu o mesmo significado da Carta aos Brasileiros, supondo que terá cargo relevante no governo Lula. Porta-vozes do mercado correram para anunciar que a suposta entrada de Meirelles permitiu a Lula furar a bolha e coisa e tal.
Pura especulação, sem base nenhuma na realidade. Se for para o governo, Meirelles terá um cargo honorífico, talvez responsável pelo Conselhão – o encontro que reúne lideranças empresariais, sindicais e movimentos.
O Lula de hoje passou pela crise de 2003 e 2008. Em 2003, seguiu as regras do mercado, o pacto do Plano Real e passou por uma fase dura. Em 2008 enfrentou a maior crise desde 1929, foi obrigado a resolver problemas de forma pragmática e saiu consagrado, permitindo recuperação da economia, melhoria da vida da população, acumulação de reservas e redução da dívida pública.
É verdade que houve um boom de commodities. Mas tivesse sido com Lula de 2003, ou FHC, e o país não teria se beneficiado de nada.
O Lula de 2022 quer ousadia. Já confidenciou a mais de uma pessoa que várias coisas poderiam ter sido feitas em 2003, e ele não sabia que era possível. Agora, sabe. Portanto, seu governo será de ousadia, fugindo dos torniquetes da Lei do Teto e do ajuste fiscal rigoroso..
O exemplo que dá é do Chile e da Argentina, que seguiram ao pé da letra o receituário do FMI e ampliaram a crise econômica e política.
Por isso mesmo, o Lula de 2023 aumentará a base monetária, ampliará os investimentos públicos e o combate à fome e à miséria, mesmo sabendo que despertará críticas de sempre do mercado e da mídia. Sabe que submeter-se à ortodoxia significará ter o mesmo destino dos presidentes da Argentina e do Chile.
A ideia de um Conselho de Economistas para assessorá-lo não está confirmada. Parece mais um balão de ensaio de Guido Mantega, ainda mais se o conselho for recheado de economistas ortodoxos.
Outro ponto de consenso, é a convocação de todos os setores do país para ajudar na construção de políticas públicas. As Conferências Nacionais e os conselhos de participação terão mais relevância que em outros tempos.
Em síntese, o novo Lula parece que virá repaginado, com o aprendizado pelo qual passou em 2008, e disposto a avançar nas propostas e na ousadia.