O discurso da emergência climática, por José Machado Moita Neto
Por, José Machado Moita Neto (jmoita@ufpi.edu.br)
Não me junto ao coro dos negacionistas que contestam o aquecimento global e as consequências dele advindas na forma de mudanças climáticas. As causas desse aquecimento estão correlacionadas ao aumento dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera (vapor d´água, gás carbônico, metano, entre tantos outros). O efeito estufa, responsável pela vida na Terra e regulador do seu clima, pode se desregular pelo excesso de gás carbônico. O aquecimento global eleva a temperatura dos oceanos com dois efeitos previsíveis de grande probabilidade: maior quantidade de vapor de água na atmosfera; portanto, mais aquecimento futuro, e mais alto nível dos oceanos por conta do degelo; portanto, risco para regiões costeiras. Há muitas outras previsões apocalípticas encontradas nos modelos construídos com as informações científicas disponíveis. Por exemplo, no permafrost já foram encontrados vírus desconhecidos e seu degelo irá libertá-los.
No passado, os cientistas identificaram que alguns outros tipos de gases (CFCs) produziam um efeito fotoquímico específico na atmosfera desregulando a produção e o consumo natural de ozônio. A redução na camada de ozônio implicava no aumento na radiação ultravioleta na Terra. Havia uma previsão, baseada em evidências, do aumento de câncer de pele decorrente de maior quantidade de radiação. As indústrias envolvidas com o lançamento direto de CFCs na atmosfera tinham algumas possibilidades de substituição imediata, não alterando o seu modelo de negócio. Uma confluência de interesses políticos e econômicos no Protocolo de Montreal (1987) determinou um freio na produção de CFCs. O maior problema ambiental da década de 1980 foi contido. Essa ação global exitosa está muito longe de acontecer relativo aos gases de efeito estufa.
Reduzir a produção e uso de gases de efeito estufa altera o modo como vivemos (efeito político) e o modelo de negócio dos maiores players do planeta (efeito econômico). O ponto de nãoretorno relativo à quantidade dos gases de efeito estufa na atmosfera não pode ser calculado ou estimado, ou seja, não sabemos quando a atmosfera mais rica em gás carbônico, por exemplo, fará a Terra inóspida para humanos. Contudo, há diversas evidências científicas que, muito antes desse momento crucial, as mudanças climáticas afetarão a produção de alimentos e, portanto, a organização das cidades e das nações. Mudanças lentas favorecerão as nações mais poderosas militarmente e tecnologicamente a se prepararem para transições e traslados de suas populações. Atualmente, o capital financeiro dos países do G7 já tem bandeira fincada em todas as partes do globo. Esse cenário é impensável atualmente porque esses países parecem que estão querendo se encaminhar para uma economia verde.
Não contesto a prioridade dessa pauta ambiental para a Europa, concentrada hoje numa economia verde. Contudo, há alguns pressupostos não ditos no discurso da emergência climática que é preciso considerar: 1) Não alterar o modo/estilo de vida dos países desenvolvidos; 2) A alteração no modelo de negócio acontecerá por inovações tecnológicas com expansão e refinamento do atual sistema capitalista; 3) Países não desenvolvidos irão entrar na economia verde com seus recursos naturais e não com seus problemas sociais; 4) Negócios atuais com grande impacto nesse efeito global devem simular preocupação em compensar os seus estragos para não prejudicar a imagem de uma nova economia verde; 5) Os países mais ricos do mundo tem recursos estratégicos e uma defesa civil preparada para os eventuais problemas catastróficos iniciais das mudanças climáticas.
O consenso sobre ações políticas magnânimas que moverão todas as economias do mundo rumo à descarbonização da economia é um discurso que não precisamos aprender se não nos preparamos para produzir novas e nossas tecnologias. O Brasil atualmente é um simples consumidor das tecnologias verdes à custa de nossos recursos naturais. Um país como o Brasil deve apontar em seus problemas ambientais locais e regionais e estabelecer uma linha de defesa de sua população contra as mudanças climáticas antes da mera adesão às políticas europeias para o clima ou a aquisição e consumo de suas tecnologias verdes.