Lula, sobre geração de empregos: “Qual o futuro dessa molecada?”
Em discurso na posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na manhã desta sábado (29), em São Bernardo do Campo (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou a importância de o país buscar soluções para inserir no mercado de trabalho, de forma adequada, uma parcela de jovens que têm formação com média de anos de estudo superior à dos pais, mas que não encontra oportunidades num mercado de trabalho precarizado e com baixos salários.
“Hoje, essa molecada que está aí estudou mais do que todos nós estudamos…molecada formada, estudou quatro vezes mais do que nós. Mesmo tendo estudado mais, qual o futuro dessa molecada? Que futuro espera essa meninada? O que o mercado de trabalho tem a oferecer a essa juventude que estudou, que sonha, e percebe que não consegue ter a estabilidade que o pai teve?”, questionou.
Lula afirmou que a perda de direitos derivou de série de mentiras, de um discurso de que as conquistas da classe trabalhadora eram “custo Brasil” e que o emprego com carteira assinada é muito caro. “Qual salário essas pessoas vão ganhar, quais são os direitos? Sou da geração que lutou pelo décimo terceiro salário e pela estabilidade da mulher gestante. Foi muita luta para conquistar o que conquistamos. Tudo isso, eles inventaram que é prejudicial ao trabalhador”, comentou Lula.
Numa mensagem direta a Moisés Selerges, que assumiu a presidência do sindicado, o ex-presidente afirmou: “Por isso, você tem responsabilidade muito grande. Não é só contestar. É provar que vamos construir outro mundo.” Selerges substituiu Wagner Santana à frente de um dos maiores sindicatos do país.
Ainda falando do papel do sindicato, Lula afirmou que um dos desafios do novo dirigente é formar os jovens, fazer com que o sindicato ofereça curso de aprendizado com as possibilidades que o mercado não pode oferecer para essa parcela da população. “Nós precisamos dar as respostas que o povo precisa. Esse sindicato pode se transformar num centro de produção, de criação de novas políticas profissionais, de nova política de emprego e de novos sonhos para a classe trabalhadora.”
Perda da massa salarial
Lula lembrou das conquistas trabalhistas originadas da luta sindical e criticou a perda de direitos e a precarização das condições de trabalho dos brasileiros com a reforma trabalhista, que aconteceu após a saída dos governos petistas da Presidência da República. Segundo ele, com a maior perda da massa salarial, desde que começou a medição pelo IBGE, estamos voltando a ser párias de uma sociedade capitalista que se moderniza com o avanço tecnológico, mas que não atinge a classe trabalhadora.
Entre 2019 e 2021, um terço dos trabalhadores (33%) perdeu poder de compra quando os reajustes de salários ficaram abaixo da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), enquanto 33,1% foram reajustados em valores iguais ao INPC e 33,9% dos reajustes ficaram acima do índice. A situação é pior quando avaliamos apenas 2021, pior ano do governo Bolsonaro para o trabalhador, quando quase metade dos trabalhadores brasileiros (47,7%) teve reajustes abaixo da inflação, 36,6% dos salários foram apenas corrigidos pela inflação e só 15,8% tiveram aumento real, com índices maiores que a alta de preços.
No primeiro governo de Lula, entre 2003 e 2006, 57,9% dos reajustes superaram o INPC, 19% igualaram e apenas 23,1% ficaram abaixo da variação do índice. No segundo governo do ex-presidente, entre 2007 e 2010, o desempenho foi ainda melhor: 82,9% dos reajustes foram acima da variação do índice de inflação, 9,9% foram iguais e apenas 7,2% ficaram abaixo.
Combater o trabalho precário
No discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC neste sábado, Lula lamentou, especialmente, a precariedade do trabalho atual, em que, diante da alta taxa de desemprego, muitos trabalhadores só têm como opção trabalhar para aplicativos de transporte, acreditando serem empreendedores e sem percepção inicial de que servem a um patrão que desconhecem e com quem não podem brigar por melhores condições, como quando os sindicatos vão para as portas de fábricas fazer suas reivindicações.
“Hoje, dizem para um cara que, se ele pegar o carro e entrar no Uber, ele vai ser um microempreendedor. Ele só se dá conta de que não é quando quebra o carro, quando a mulher fica doente e ele percebe que não tem nenhum direito, percebe que está trabalhando muito mais para pagar o aplicativo do que para levar para casa para cuidar da família. Quando a moto quebra e ele se acidenta, ele percebe que não vale nada, que não conhece o patrão.”
Novamente, a realidade dos tempos do PT no poder era bem diferente. Foram gerados 20 milhões de novos postos de trabalho, num período em que os países de primeiro mundo cortaram 100 milhões de vaga. Já o salário mínimo passou por valorização nunca vista antes, com elevação de 76,54%, entre 2002 e 2015. O ganho real entre 2003 e 2010, no governo Lula foi de 53,6%.