Mulheres | Uso medicinal da Cannabis pode virar lei nas três capitais do sul do Brasil
A iniciativa, que passa a tramitar nas Câmaras Municipais das três capitais do sul do Brasil, não possui relação com a discussão sobre a legalização da maconha para fins recreativos. A proposta também busca estimular a pesquisa científica sobre o uso da Cannabis medicinal nas três capitais do Sul do Brasil, de modo a buscar novos tratamentos com a substância. Para implementação e execução do programa, poderão ser formalizadas parcerias com universidades, entidades sem fins lucrativos e instituições de pesquisa. Os protocolos e requisitos para a realização dos estudos deverão obedecer aos regulamentos de órgãos federais, como Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
De acordo com a vereadora Carla Ayres, este é um importante projeto de saúde pública, que busca ampliar o acesso da população a um medicamento que hoje ainda é muito restrito a pessoas com poder aquisitivo mais elevado. “Diversas pesquisas científicas publicadas nas mais importantes revistas do mundo comprovam os benefícios de medicamentos derivados da Cannabis, no tratamento de inúmeras doenças. Portanto, o Estado tem o dever de assegurar esse tratamento para reduzir o sofrimento e promover a qualidade de vida de quem hoje encontra dificuldades para conseguir essa medicação. Atualmente, a maioria dos insumos para produção de medicamentos à base de Cannabis são importados, tornando o seu custo inviável para a população de baixa renda”.
Carla Ayres defende ainda, que é preciso romper com a desinformação e combater o discurso anticientífico sobre o tema.
“A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já regulamentou o uso medicinal da Cannabis no nosso país, contudo, a sua implementação como política pública tem esbarrado no discurso conservador, que se vale de fake news e da anticiência para impor uma visão distorcida sobre a Cannabis medicinal. Esta é uma questão de saúde pública. São milhares de pessoas que poderiam tratar os sintomas e ter uma qualidade de vida muito melhor se tivessem acesso a este medicamento”.
Na mesma ação, as vereadoras e vereadores também estão propondo outro projeto de lei para instituir o programa “Farmácia Viva”. A finalidade é oferecer na rede pública produtos, insumos e medicamentos fitoterápicos para tratamento da saúde, conforme normativas do Ministério da Saúde a esse respeito, em vigor desde 2010. Segundo dados da Anvisa, atualmente no Brasil existem 13 milhões de pessoas que possuem doenças crônicas para as quais substâncias extraídas da Cannabis e de outras plantas têm recomendação para seus tratamentos.
Uso terapêutico
Cannabis é o nome científico da planta conhecida popularmente como maconha. Uma das diferenças entre a droga de uso recreativo, ainda considerada ilícita no Brasil, e a utilização terapêutica está na concentração dos princípios ativos, canabidiol (CBD) e tetraidrocanabinol (THC). O primeiro está associado a resultados positivos nos tratamentos de doenças raras, dores crônicas, epilepsia, TDAH, TOC, síndrome de Tourette, Alzheimer, Parkinsson, fibromialgia, insônia e outros, quando esses problemas não respondem aos medicamentos convencionais. Já a segunda substância é encontrada em maior concentração nos produtos denominados usualmente como maconha e que têm finalidades recreativas, ritualísticas ou culinárias. Apesar de seu potencial tóxico e de causar dependência química, o THC tem efeitos terapêuticos estudados em casos diversos, como em pacientes com AIDS e com câncer.
Pesquisas no Brasil
O Brasil é um dos países pioneiros nas pesquisas com Cannabis. Nas décadas de 1970 e 1980, o psiquiatra e pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Antonio Waldo Zuardi, foi o primeiro do mundo a demonstrar os efeitos calmantes e antipsicóticos do CBD. Mas foi só no ano passado que o primeiro extrato de canabidiol desenvolvido no Brasil chegou às farmácias, fruto de uma parceria entre a FMRP, Universidade de São Paulo (USP) e a indústria farmacêutica. O produto é fabricado no Paraná, pelo laboratório Prati-Donaduzzi, e foi liberado para comercialização pela Anvisa em abril de 2020. A venda é controlada e condicionada à apresentação de receita médica.
Congresso Nacional
Apesar dos estudos científicos que comprovam a eficácia da substância no tratamento de diversas doenças e o potencial econômico dessa finalidade, a discussão em torno do plantio para uso científico e medicinal da Cannabis provoca debates no Brasil. O tema está em discussão no Congresso Nacional e, no início deste mês, o Projeto de Lei 399/15, que regulamenta o cultivo controlado de Cannabis para fins exclusivamente medicinais, veterinários, científicos e industriais e a comercialização de medicamentos que contenham extratos, substratos ou partes da planta, foi aprovado na comissão especial que analisa o tema.
Confira o andamento da tramitação dos projetos:
Câmara Municipal de Curitiba: https://www.cmc.pr.gov.br/wspl/sistema/ProposicaoDetalhesForm.do?select_action=&ordena=005.00177.2021&pro_id=437566&popup=s&chamado_por_link&pesquisa=Cannabis
Câmara Municipal de Florianópolis: https://paperlessgov-editor.cmf.sc.gov.br/visualizador/publico/anexo/14491
Câmara Municipal de Porto Alegre: https://camarapoa.rs.gov.br/processos/136605