Com Bolsonaro na presidência, sai o gás e volta a lenha aos lares brasileiros
Entre março de 2020 e março de 2021, o preço do gás de cozinha subiu 20%, quase quatro vezes a inflação no mesmo período. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula variação de 2,05% no ano e de 6,10% nos últimos 12 meses.
Em março, a inflação ficou em 0,93%, a taxa mais alta para o mês desde 2015, quando alcançou 1,32%. Os principais impactos, no mês passado, vieram dos aumentos nos preços de combustíveis (11,23%) e do gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de botijão (4,98%).
“Foram aplicados sucessivos reajustes nos preços da gasolina e do óleo diesel nas refinarias entre fevereiro e março e isso acabou impactando os preços de venda para o consumidor final. O gás teve dois reajustes nas refinarias nesse período, e agora o consumidor percebe esse aumento”, disse em nota o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em entrevista ao site DCM, no último dia 7, o presidente Lula responsabilizou o desgoverno Bolsonaro pelo retrocesso. “Vi uma matéria mostrando as pessoas cozinhando com lenha porque não conseguem comprar gás. O Brasil não merece isso. Não merece andar para trás”, lamentou Lula.
Guedes prometeu preços menores
Há exatamente dois anos, em abril de 2019, o ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, chegou a acenar com queda do preço do gás pela metade até 2021. Mais uma mentira. Se a promessa tivesse sido cumprida, o brasileiro pagaria cerca de R$ 35 no botijão em abril de 2021, em vez dos atuais R$ 83, ou 137% a mais.
Em 2021, a Petrobras já reajustou a gasolina em 46,2%, o diesel em 41,6% e o gás de botijão em 17%. Em 1º de maio, será a vez do gás natural canalizado, que terá reajuste de 39%. Como é um importante insumo para indústrias, o custo será repassado para o consumidor, para variar.
“O GLP está deixando de ser um produto de utilidade pública por causa do alto preço”, lamenta o presidente da Associação Brasileira dos Revendedores de GLP, Alexandre Borjaili. “As famílias em miséria absoluta só crescem no Brasil, contradizendo todo discurso de energia barata do governo. Nunca o preço foi tão alto.”
O dirigente diz que a tendência é que o preço chegue a R$ 200 ainda em 2021. A atual escalada da cotação do petróleo no mercado internacional e a política de dolarização de preços adotada pela Petrobras desde o início da gestão do usurpador Michel Temer, em 2016, explicam a escalada.
Outro motivo decisivo é o desmonte do sistema Petrobras, que levou à venda da Liquigás, entre outras subsidiárias. “O GLP, agora, está na mão de multinacionais e o princípio social do botijão de 13kg foi totalmente abandonado”, constata Borjaili.
Auxílio emergencial
Com a redução do valor e, depois, o fim do auxílio emergencial, o retorno dos consumidores para lenha ou carvão foi imediato. “A gente percebeu que esse número é grande. São muitas pessoas que estão cozinhando à lenha. Porque elas acabam cozinhando lá, no cantinho delas, acaba não expondo essa demanda. E a gente percebeu esse aumento”, atesta Deraldo Silva, coordenador da Central Única de Favelas (Cufa).
“Apesar da essencialidade da energia, de uma forma geral, e do GLP, a demanda da população de baixa renda é muito sensível a preço e a sua renda”, diz Marcelo Colomer, pesquisador do Grupo de Economia da Energia da UFRJ. “Isso não só justifica como legitima a definição de políticas públicas direcionadas à expansão do consumo.”
“Quanto mais se usa lenha, menos o povo tem acesso ou condições econômicas de buscar outro combustível mais limpo, menos poluidor, menos tóxico. Então isso é uma métrica mundial que a Organização Mundial da Saúde usa”, analisa Adriana Gioda, professora de química da PUC-RJ e uma das poucas pesquisadoras brasileiras dedicadas a estudar o consumo de lenha no país.
Da Redação