“Bolsonaro fez pacto com a morte e Ciro Nogueira fecha os olhos”, diz deputado Merlong Solano

 “Bolsonaro fez pacto com a morte e Ciro Nogueira fecha os olhos”, diz deputado Merlong Solano

Por Merlong Solano, deputado federal, PT/PI

No artigo “Um Brasil unido pela vida”, publicado pelo portal Poder360, o senador Ciro Nogueira (PP) advoga a tese de que não devemos apurar responsabilidades pela morte de cerca de 300 mil brasileiros e brasileiras, assim como outros tantos entes queridos que ainda serão vitimados pela Covid.

Coisa curiosa é que a tese do senador beneficia especialmente a sua atual referência política, o presidente Bolsonaro.

Pergunto como será possível relevar, jogar debaixo do tapete, o fato gravíssimo de que as muitas atitudes de Bolsonaro diante da pandemia, e também a falta delas, correspondem à atitude de um general que leva seu exército para campo de batalha desconhecido, sem procurar conhecer o terreno e sem procurar equipar seus soldados com as melhores armas e, pior, entregando-lhes munições vencidas e equipamentos que não funcionam bem frente ao campo de batalha e ao inimigo a ser enfrentado. E mais, passando para os soldados a ideia de que o inimigo é fraquinho.

Pois é, senador Ciro, tudo isso aí e muito mais o seu capitão-presidente fez diante da pandemia. Começou dizendo que era uma gripezinha; que talvez viesse a matar umas 800 pessoas; provocou aglomerações; desvalorizou o uso da máscara; desaconselhou o distanciamento social; prescreveu e comprou cloroquina, remédio que não funciona contra a covid; não contratou vacinas no momento certo, recusando inclusive a oferta da Pfizer e atacando a Coronavac, etc.

Dentre as coisas que deixou de fazer, ou que fez de modo totalmente errado, está o fato de que não nomeou para o Ministério da Saúde ministro capaz de coordenar uma ação nacional contra a pandemia, ou quando o fez não permitiu que o ministro trabalhasse com um mínimo de autonomia. Nem mesmo uma campanha nacional de sensibilização da população para a adoção de atitudes preventivas o ministério conseguiu fazer; pra não falar de coisa mais complexa, como uma estratégia nacional de enfrentamento compartilhando tarefas com estados e municípios.

O resultado da total irresponsabilidade do presidente Bolsonaro frente à pandemia está aí: mortes e mais mortes, muitas das quais poderiam ter sido evitadas; vacinação lenta num país que até pouco tempo era referência mundial em campanhas de vacinação; elevadíssimo nível de desemprego e a volta do Brasil ao mapa da fome.

Na perspectiva do senador, nada disso importa, a coisa agora é tirar uma foto do presidente junto com os presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal, esperar que as vacinas comecem a chegar em maior quantidade (veja que somente agora o governo federal assinou contrato com a Pfizer, cuja oferta inicial foi apresentada em agosto de 2020); talvez celebrar alguns atos religiosos em memória dos mortos. E vida que segue.

Essa não é definitivamente a minha perspectiva. Uma sociedade que banaliza 300 mil mortes e mais cerca de 200 mil que morrerão até agosto, não é positivamente uma Nação que abraça todos os seus filhos e filhas. É a volta a colônia de exploração, onde em nome do negócio tudo era permitido, com uma única diferença: a elite beneficiada não é externa, a da metrópole, é a elite interna, em seus vários segmentos, associada ao grande capital, especialmente o financeiro.

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