Brasil não está pronto para enfrentar 2ª onda de Covid-19
O Brasil deve ficar atento ao que acontece no continente europeu. Com 5.469.755 de casos de Covid-19 registrados e 158.468 óbitos nesta quarta-feira (28), o país não pode celebrar a redução na média móvel de mortes detectada pelo consórcio de veículos de imprensa, que ainda aponta para o altíssimo patamar de 430 óbitos diários. Santa Catarina, Amazonas e Amapá estão em zona de risco e novas medidas para restringir a circulação de pessoas foram anunciadas em Macapá e no estado amazonense. Especialistas alertam que o país continua despreparado para enfrentar uma segunda onda do surto, que paira sobre o verão que se avizinha.
O governo continua sem apresentar um plano para ampliar o rastreamento de pessoas que tiveram contatos com infectados e isolar casos suspeitos. Também não se investiu no aumento das testagens em massa, consideradas peça-chave para a engrenagem da máquina de combate ao vírus. Ao contrário. No mês de setembro, o Ministério da Saúde reduziu a aplicação de testes de diagnóstico de Covid-19 em 11,5% em relação ao mês anterior, segundo o ‘G1′. Foram realizados 944.712 testes do tipo PCR no mês passado e 1.067.656 em agosto. Ou seja, o Brasil continua no escuro em relação real avanço do vírus.
Para o médico Airton Stein, professor titular de saúde coletiva da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, ouvido pela ‘ BBC Brasil’, a diminuição do número de testes distribuídos pelo Ministério da Saúde é um aspecto preocupante”.
Governo negligencia testagem
O Brasil, avaliam cientistas ouvidos pela agência, deveria aproveitar o momento na queda de óbitos e casos para ampliar seu programa de testagem. “Só assim conseguimos detectar os casos, especialmente os assintomáticos, e isolá-los pelos próximos 14 dias”, afirmou Stein. Infelizmente o Ministério da Saúde de Bolsonaro prefere sabotar medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter o surto, ao invés de reforçá-las.
O Brasil realizou 15,5 milhões de testes até o mês de outubro. Menos da metade, apenas 7,7 milhões, são testes do tipo PCR, fundamentais para o mapeamento dos casos suspeitos. Outros 8 milhões são testes rápidos, que só identificam a presença de anticorpos. No total, 10,4% da população brasileira, 21,9 milhões de pessoas, realizaram algum tipo de testagem, segundo o IBGE.
Entre os testes tipo PCR, 35% deram positivo, o que é considerado alto para os especialistas, o que seria motivo mais do que suficiente para a ampliação das testagens. O Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês) avalia que taxas acima de 25% podem indicar insuficiência de testes.
Desde o início da pandemia, a OMS vem ressaltando a importância dos testes como parte de uma estratégia abrangente para controle da transmissão do coronavírus. Uma informação vital, prontamente ignorada pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Europa mergulha na segunda onda
Depois de um período de controle da pandemia do coronavírus, com políticas bem sucedidas de contenção da doença, a chegada do verão europeu coincidiu com um relaxamento da população em relação ao isolamento social, fundamental para frear o contágio. Famílias voltaram a se reunir, jovens se aglomeraram em festas pela praia e os cafés e restaurantes cuidaram de restaurar um perigoso clima de normalidade. Agora, prestes a mergulhar em um inverno rigoroso, a Europa vê-se obrigada a retomar a adoção de medidas extremas como toque de recolher e lockdown, anunciado nesta quarta-feira (28) na França.
Nas duas últimas duas semanas, a França registrou 421.799 novos casos e 2.193 mortes pela doença. Os óbitos diários estão no nível mais alto desde abril. Na terça-feira, (27), houve a confirmação de 33 mil novas infecções.
A explosão de casos levou o presidente Emmanuel Macron a optar pela quarentena para evitar um descontrole total da doença. A partir desta sexta-feira (30), só poderão circular trabalhadores de serviços essenciais e por motivos de saúde. Bares e restaurantes estarão fechados. Apenas as escolas e fábricas continuarão funcionando.
A Alemanha vai pelo mesmo caminho. Assim como a França, o lockdown será parcial, mas um pouco menos rígido. Bares e restaurantes serão fechados a partir de segunda-feira (2), mas o comércio deve funcionar, com restrições.
“Estamos agora em um ponto em que, pela média nacional, não sabemos mais de onde vieram 75% das infecções. Só conseguimos verificar 25%”, afirmou a chanceler Angela Merkel. O país contabilizou quase 15 mil novos casos em 24 horas e já há um temor entre autoridades de uma sobrecarga no sistema de saúde alemão nas próximas semanas.
Segundo a OMS, o continente europeu, que tem 46 países membros da agência, responde por quase metade das infecções mundiais (46%) e perto de um terço das mortes.
Apagão de dados
Para o diretor de emergências da agência, Mike Ryan, a Europa precisa acelerar suas ações para frear a disseminação do surto. Uma das maiores preocupações levantadas pela equipe da agência diz respeito à falta de rastreamento dos casos, o que provocaria um apagão de dados sobre o real estado da pandemia.
“Atualmente estamos bem atrás do vírus na Europa, então, para passar à frente dele, precisamos acelerar seriamente no que vamos fazer”, disse Ryan em entrevista coletiva, na segunda-feira (26). Ele elogiou os sistemas de saúde e as redes hospitalares da região e mencionou a importância das quedas nas mortes por Covid-19.
“Mas estamos vendo um grande número de casos, estamos vendo a doença se espalhar, taxas de positividade muito, muito altas e uma capacidade cada vez menor de fazer qualquer tipo de rastreamento de contato, o que irá empurrar a doença para a escuridão”, concluiu.
Russia, Espanha, Reino Unido, Itália e Portugal também estão às voltas com uma disparada de casos de Covid-19. Mas como a Europa chegou a essa situação? “Com a chegada do verão, os abalos econômicos e a queda na transmissão do vírus entre a comunidade, houve uma enorme pressão para que as coisas voltassem a funcionar como antes por lá”, declarou Stein.
A volta das atividades nas escolas e universidades também contribuiu para o aumento de casos, o que também explica em parte uma contaminação maior entre os jovens. Outro fator destacado pelos cientistas é a ampliação da capacidade de testagem dos governos, o que permitiu um número mais rápido de diagnósticos.
“Quando a pandemia começou, os países estavam despreparados”, explicou o virologista Anderson Brito, pesquisador na Escola de Saúde Pública da Universidade Yale, nos EUA, à BBC. “Muitos casos estavam ocorrendo, mas eles não foram registrados por falta de estrutura. Sete meses depois e com mais testes em mãos, é possível detectar um número maior de pacientes”, justificou.
Da Redação, com informações de ‘BBC’, ‘G1’ e Reuters
Fonte: pt.org.br