Governo Bolsonaro libera auxílio para os mais ricos e aumenta fila de espera dos mais pobres
Da Redação, Agência Todas, com informações do Valor Econômico e Folha/UOL
Em maio de 2020, o governo Bolsonaro diminuiu o número de famílias beneficiadas pelo programa Bolsa Família nas regiões Norte e Nordeste, em relação ao mesmo período do ano passado. Já nas regiões mais ricas do país, como o Sul e Sudeste, houve aumento no número beneficiários.
E essa não é a única distorção cruel que reforça e faz avançar as desigualdades sociais no país. Um terço das famílias das classes A e B solicitou o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal nos últimos meses – e 69% foram aprovadas para receber o benefício. Esse dado foi levantado pelo Instituto Locomotiva para o Valor Econômico.
O estudo revela que 3,89 milhões de famílias mais ricas têm algum integrante recebendo a ajuda criada para apoiar trabalhadores pobres na pandemia. O auxílio emergencial, criado para impedir que a população mais vulnerável e desempregados não percam as condições básicas de sobrevivência, está indo parar na mão de quem não precisa. Ao contrário das famílias mais pobres, apenas 2% das classes A e B relataram falta de dinheiro para comprar alimentos e somente 3% falta de recursos para itens de higiene, segundo dados do Instituto.
Contra a corrupção?
Para burlar as regras do programa e obter o auxílio emergencial, integrantes dessas famílias de classes mais altas omitem a renda familiar no cadastro no site da Caixa Econômica Federal. São esposas de empresários, jovens de famílias de classe média e servidores aposentados, mostram denúncias feitas nas últimas semanas e publicadas no jornal Valor Econômico.
Enquanto a vista grossa do governo federal para beneficiar famílias mais ricas segue seu curso, a fila de espera do Bolsa Família ainda persiste. São 433 mil famílias aptas a receber o benefÍcio e que ainda aguardam liberação, segundo dados obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.
A nova lógica usada pelo governo para distribuição do benefício aponta, por exemplo, que, em março, quando muitos estados do Nordeste registraram a menor cobertura dos últimos anos, a região tinha 105% dos benefícios estimados no sistema. O resultado prático desse fenômeno é o aumento de beneficiários nas regiões Sul e Sudeste, por considerar que as regiões mais pobres estão contempladas — penalizando ainda mais os estados do Norte e Nordeste.