Profissionais da educação sofrem com efeitos da pandemia
No documento “Volta Segura às Aulas”, divulgado esta semana pelo Partido dos Trabalhadores, é abordada a situação dos profissionais de ensino, categoria bastante afetada pelos efeitos causados pela pandemia da Covid-19 e pelo isolamento imposto diante da necessidade de preservação de suas vidas.
De acordo com o texto elaborado pelo partido, além dos problemas emocionais causados pelo afastamento de suas funções diárias e dos próprios locais de trabalho, os profissionais do magistério ainda têm de lidar com novas situações de trabalho para as quais muitos não estão preparados tecnicamente e tampouco recebem o apoio necessário do Poder Público. E ainda existe o problema da improvisação.
“Aqui não se trata apenas das dificuldades operacionais. Para além de toda dificuldade de conexões e de improvisos, outro nível de problemas, em que se revelam as pressões do setor privado, se apresenta na oferta de plataformas digitais completamente alheias aos projetos pedagógicos dos cursos e das instituições, com forte prevalência conteudista e pouca elaboração de tais conteúdos e conceitos”, analisa o documento.
Segundo a pesquisa “Trabalho Docente em Tempos de Pandemia” feita pelo Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente da Universidade federal de Minas Gerais (GESTRADO/UFMG) em consórcio com a CNTE – Confederação dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco, “embora 83% dos professores possuam recursos, em casa, para aulas não presenciais, metade deles compartilha esses recursos com outras pessoas de suas residências. Essas adaptações de metodologias exigem muito esforço dos professores que têm buscado atender os desafios de uma prática pedagógica nova, não trabalhada pelas escolas e para a qual não possuem formação adequada”, informa o documento do PT.
A deputada federal Professora Rosa Neide (PT-MT), uma das mais ativas parlamentares na área da educação na Câmara, também tem a mesma opinião sobre a educação por meio remoto.
“A educação será talvez a área mais atingida pela pandemia no Brasil”, observa Neide. “As aulas remotas no Brasil estão longe de ser uma possibilidade real, porque primeiro não tem internet para todos, a maioria do população está excluída, os alunos pobres não tem computador, tablet ou um celular de qualidade. Assim também são os profissionais, que ganham salários muito baixos e não estudaram esta tecnologia, mas estão fazendo um esforço muito grande para ensinar”, explica Rosa Neide.
“A falta de formação traz insegurança, a falta de banda larga traz insegurança e a falta de equipamento à altura do que o momento exige traz insegurança. Então é muito difícil a retomada de uma educação com qualidade para estudantes e profissionais no Brasil”, afirma a deputada.
Impacto na saúde dos profissionais
Para o PT, todo este quadro caótico vem impactando negativamente a saúde dos profissionais da educação que se esforçam para realizar com segurança e eficiência uma nova metodologia de trabalho que lhes foi imposta de forma abrupta.
Estudos demonstram que grande parcela de professores/as já apresentam quadros de adoecimentos freqüentes em decorrência do trabalho de 20 e 30 anos de exercício, o que deriva em baixa imunidade na faixa etária de 50 anos ou mais – associados ao múltiplo emprego e acúmulo de jornadas, fatores que potencializam comorbidades; risco de contaminação advinda de possível proximidade física entre estudantes e profissionais, intrínseco ao funcionamento escolar.
O alto grau de compromisso para com o exercício de ensinar tem levado esses profissionais a enfrentar esse novo cotidiano, fazendo-os buscar formas e meios de atender os seus alunos. “O preço tem sido alto, posto que as inseguranças da pandemia os atingem e isso tem gerado ansiedades, temores e angústias – quadros de adoecimento mental e emocional”, afirma o documento.
Sem garantias, não há retorno
Com relação ao retorno às aulas presenciais que já vem sendo pedido e até imposto, em alguns casos sob pressão dos sindicatos patronais, o PT manifesta preocupação com a volta segura dos profissionais da educação, bem como dos estudantes e de toda a comunidade escolar. E esta também é a posição da representação sindical dos profissionais.
A CNTE -Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação também está bastante preocupada com o retorno das atividades presenciais sem a garantia da segurança sanitária para toda a comunidade escolar.
Para Heleno Araújo, presidente da CNTE, a elaboração de protocolos pelos governos sem a presença dos representantes dos segmentos e da comunidade escolar é a primeira grande falha ou ato inconsequente por partes daqueles que definiram datas para o retorno das atividades presenciais.
“Orientamos a todas as nossas entidades filiadas a exigirem a participação da comunidade escolar na elaboração dos protocolos, a plena aplicação de todas as medidas elaboradas coletivamente e, se estas medidas não forem respeitadas pelos governos, que a entidade convoque assembleia virtual e aprove a Greve pela Vida. Ou seja, sem plena garantia da segurança sanitária, não vamos retornar para as atividades presenciais”, enfatiza Heleno.
Da Redação