20 anos: Queria te chamar de Maria, mas você é Trindade!
Hoje (26/07) completam-se 20 anos da morte de Francisca Trindade. Se a memória não me falha, foi em 2000 que escrevi este texto para ela:
Eu queria te chamar de Maria, mãe de Camila, para plagiar poetas e dizer que tens o dom, a força, a graça, que é a cor e o suor, e que vens desta gente que ri quando deve chorar.
Mas você é Francisca e representa esta sub-gente. O desaculturado, clandestino, inviável. És irmã dos rebeldes e buscas para eles a liberdade impossível e identidade proibida.
Preta ou mulata, seja qual for a cor, como na Estrela, a carne é vermelha no sangue.
José do Patrocínio, Aleijadinho, Machado de Assis, Zumbi…Esperança Garcia, eles e você sempre na defesa dessa gente que vai em frente sem ter com quem contar. Gente do subúrbio, cozinha, cais, bordel, favela, xadrez.
Queria te chamar de Maria, mas você é Trindade!
FOTO: DIVULGAÇÃO
Texto publicado na edição 47 da Revista Revestrés:
Francisca das Chagas da Trindade nasceu em 26 de março de 1966, em Teresina. Foi professora nos ensinos médio e fundamental, após se formar em Teologia na Universidade Federal do Piauí, onde também cursou Filosofia, curso
que não chegou a concluir.
Trindade exerceu intenso ativismo social, representando o Piauí na Central Nacional de Movimentos
Populares, além de uma das mais ativas organizadoras da Articulação Nacional do Solo Urbano.
Como militante política, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores, disputando em 1992 o cargo de vereadora em Teresina. Não obteve votos suficientes para ser eleita, mas ficou na suplência. Em 1995 assumiu o mandato após a saída do então vereador Wellington Dias, mas, em nova tentativa nas eleições do ano seguinte, chegou à Câmara Municipal como vereadora eleita.
Começa então uma das mais promissoras carreiras da política regional. Já em 1998, em rápida ascensão, é eleita deputada estadual, sendo a candidatura mais votada na capital e na quinta colocação no estado. Com sua postura aguerrida, presidiu a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. Em 2002 obteve mais de 165 mil votos e tornou-se, até então, a parlamentar com a maior votação na história do estado ao conquistar uma vaga na Câmara Federal.
A guerreira Trindade, como era chamada por sua incisiva atuação nos movimentos sociais nas mais diversas áreas, como a favor dos sem-teto, pelas mulheres e contra o racismo, foi uma das fundadoras de um dos maiores assentamentos urbanos da América Latina, a Vila Irmã Dulce, na capital piauiense.
Considerada favorita nas eleições para a prefeitura de Teresina em 2004, não teve tempo de realizar mais essa conquista e o sonho de alterar os rumos da história: faleceu prematuramente aos 36 anos, deixando sua marca na política e no sentimento popular do Piauí.