A rejeição de mulheres a Bolsonaro

 A rejeição de mulheres a Bolsonaro

Exatamente mais da metade das eleitoras do país rejeita o candidato Jair Bolsonaro, de acordo com as pesquisas Ipec e Datafolha. E o quadro não deve melhorar, pois ele continua dando declarações misóginas, como as que proferiu no debate contra a jornalista Vera Magalhães e a candidata Simone Tebet. Além de inúmeras declarações machistas ao logo do mandato contra jornalistas e mulheres em geral.

Tal comportamento pode excitar o seu eleitorado cativo, mas afasta aqueles de quem precisa para vencer a eleição. De acordo com a última pesquisa Datafolha, na quinta-feira (22), Lula tem 49% de intenções de votos entre as mulheres e Bolsonaro, 29%.

Bolsonaro tenta reduzir a rejeição entre as mulheres. Uma das estratégias é ampliar a participação da primeira-dama Michelle Bolsonaro na campanha, mas o presidente esbarra no histórico de atitudes machistas.

Dentre os principais motivos da alta rejeição, os impactos da crise econômica se fizeram sentir mais entre mulheres (principalmente as negras) do que entre os homens, de acordo com a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE. Não apenas porque elas foram atingidas em cheio pela inflação, pelo desemprego e pela queda de renda, mas também porque muitas delas são as responsáveis pelo bem-estar de suas famílias.

Além disso, a política de liberação de armas de Bolsonaro tem efeito negativo junto ao público feminino, apesar de conseguir bons resultados junto a homens inseguros. E o negacionismo dele na pandemia de covid-19, que ajudou o país a passar de 680 mil mortes, também é repudiado mais por mulheres do que homens.

Sobre o assunto, o pensarpiauí conversou com Antônio José Medeiros, sociólogo e professor aposentado da UFPI.

Confira:

pensarpiauí- O Brasil perdeu uma presidenta honesta comprometida com as pautas das mulheres, Dilma Rousseff. Depois, o país se depara com o governo Bolsonaro, misógino e omisso. Qual o impacto de tamanha mudança na vida das mulheres brasileiras?

Prof. Antônio José– O patriarcalismo dominou a história das sociedades como marca cultural. No mundo contemporâneo, com a avanço da emancipação feminina, se tornou preconceito (machismo) e desqualificação das mulheres (misoginia). Isso ficou muito claro no desrespeito na declaração de voto de muitos deputados durante a votação que aprovou o impeachment de Dilma Rousseff. Com Bolsonaro, esse machismo e misoginia se tornaram uma marca do Governo. Pela resistência e força dos movimentos de mulheres, boa parte da sociedade repudia essa política. Por isso, o desmonte de políticas públicas afeta a vida concreta das mulheres com um impacto menor do que o governo gostaria. Há muita solidariedade social.

pensarpiauí- As pesquisas apontam uma rejeição de mulheres a Bolsonaro a mais 52%. Em pesquisa realizada pelo O Globo, a rejeição chegou a 61% mesmo após propaganda voltada para o público feminino. O que explica esses números?

Prof. Antônio José– As pesquisas mostram a adesão a Lula nas camadas mais pobres, apesar do Auxílio Brasil (novo nome do Bolsa Família). E é muito forte entre as mulheres. A tentativa de usar a primeira-dama para influenciar as mulheres não tem repercussão. Ela influencia parte dos evangélicos, não as mulheres. Pois suas atitudes são de submissão ao marido-presidente.

pensarpiauí- O conservadorismo da direita de Bolsonaro prejudica as políticas públicas para as mulheres? 

Prof. Antônio José– Praticamente todas as políticas públicas foram reduzidas. Houve mesmo uma tentativa de desmontá-las. A da educação e a do meio ambiente foram as mais atingidas. Também a da saúde que é muito importante, e as políticas específicas voltadas para as mulheres. E há uma verdadeira cruzada ideológica contra as reivindicações dos movimentos feministas e da diversidade.

pensarpiauí- O ex-presidente Lula tem uma grande aprovação das mulheres, negros, indígenas e Lgbtqia+. O voto desses grupos podem ajudar a definir essa eleição?

Prof. Antônio José– O Lula compreendeu que para derrotar Bolsonaro é importante construir uma frente ampla que unifique a esquerda, mas se amplie para o centro/esquerda e liberais da centro/direita. Daí a escolha de Alckmin para candidato a vice-presidente. Daí a coligação com dez partidos. E agora as declarações de apoio de várias personalidades.

Quanto aos setores sociais, é importante o apoio de jovens e das mulheres que resistiram e têm consciência de que precisam ter uma política de novas conquistas. E que precisam consolidar uma visão ideológica de respeito e valorização da igualdade de gênero. É visível o engajamento das mulheres nesse movimento. Sua atuação é decisiva para resolvermos esssa eleição no primeiro turno.

Fonte: pensarpiaui.com

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