O que esperar da extrema-direita brasileira?, por Milton Pomar
Os assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes ocorreram no início de 2018, ano no qual a extrema-direita chegou à presidência da República pelo voto, após campanha eleitoral caracterizada exclusivamente pela utilização de mentiras contra o candidato do PT, e sem que o seu candidato participasse de um único debate. Dois ex-policiais, acusados pelos assassinatos, estão presos há três anos, aguardando julgamento pelos crimes. Um deles teria comprado armas contrabandeadas dos Estados Unidos. Passados quatro anos do crime, realizado em via pública no centro do Rio de Janeiro, é tudo o que se tem.
Elogios públicos à tortura e ao torturador mais famoso da ditadura militar; defesa da atuação das milícias; convivência com ex-policiais com várias mortes nos currículos; e conclamação para o crime, durante comício, em 1º de setembro de 2018, em Rio Branco (AC), com a frase “vamos fuzilar a petralhada”, enquanto segurava tripé de câmera como se fosse metralhadora e estivesse atirando, integram o conjunto que caracteriza o presidente eleito, líder (medíocre, mas que segue sendo referência) da extrema-direita do Brasil.
Natural, portanto, o “boom” de manifestações típicas da ideologia de extrema-direita em todo o País, desde a campanha eleitoral de 2018. Violência é inerente à extrema-direita, está na gênese de pessoas com essa ideologia. Por isso na extrema-direita há tantos militares, policiais, e agentes de serviços secretos, e por isso também há tantos casos, em “democracias” e ditaduras no mundo todo, de violência, tortura e assassinatos cometidos por esses servidores públicos.
Fascistas, neonazistas, nazistas, milicianos, racistas, machistas, homofóbicos, reacionários – a extrema-direita no Brasil é tudo isso junto, e muito mais: armados, municiados e treinados, estão se preparando para atacar fisicamente quem pensa diferente, enquanto fazem propaganda com mentiras multiplicadas “n” vezes, enviadas a milhões de adeptos, que viram verdades científicas e como tais são compartilhadas pelas redes sociais e aplicativos de mensagens. Para a extrema-direita, brasileira e mundial, não há limite para mentiras, violência verbal e violência física contra quem é/pensa diferente.
Como estão se armando cada vez mais, graças a ações do presidente da República facilitando a compra, o porte e o transporte de armas e munições, e a impunidade segue como de rotina, é só uma questão de tempo para agressões físicas e até assassinatos de opositores ideológicos tornarem-se também uma rotina – como ocorre na área rural, onde lideranças ambientalistas e de trabalhadores e trabalhadoras continuam sendo assassinadas, ano após ano, conforme revela a Comissão Pastoral da Terra (https://www.cptnacional.org.br/publicacoes-2/conflitos-no-campo-brasil). Assassinatos em sua maioria impunes até hoje.
Vivenciamos a agressividade e a propaganda mentirosa e em grande escala da extrema-direita nas campanhas eleitorais de 2018 e de 2020. O financiamento e a assessoria externa de tudo isso são públicos, notórios, e, até agora, impunes. Intimidação física e propaganda mentirosa o tempo todo, tal e qual na ascensão do nazismo, na Alemanha, nos anos 1930.
O PT continuar com a maior preferência partidária e a maior quantidade de militantes; Lula seguir com a maior intenção de votos à presidência da República; e os demais partidos de esquerda já terem manifestado a disposição de unir forças com o PT, para derrotar no voto a extrema-direita no Brasil, tornam muito real a possibilidade de vitória de candidatos e candidatas de esquerda e centro-esquerda em 2022, acabando o pesadelo continuado no qual o Brasil está desde 2016.
Aparentemente, a possibilidade de serem derrotados em 2022 e defenestrados do desgoverno federal em janeiro de 2023, e os quase dez mil integrantes das Forças Armadas, ora em cargos comissionados, voltarem aos quartéis para suas funções constitucionais, está assustando muitos integrantes do “centrão” e do desgoverno federal, inclusive seu medíocre líder maior.
Por tudo isso, precisamos nos antecipar, jurídica e politicamente, ao que possivelmente virá em 2022, dos milhares de “civis dispersos”, e da armada, municiada e treinada extrema-direita no serviço público, antes, durante e depois da campanha. Quantas provocações em grande escala estão sendo pensadas e preparadas? Haverá imagens de lideranças de esquerda em seus alvos de tiro? Quais fraudes estão tramando, quais mentiras produzirão e propagarão aos milhões pelas redes sociais e aplicativos, aos que ainda acreditam em tudo o que dizem?
Não sabemos ainda o que estão preparando, é verdade, mas podemos imaginar, pela atuação conhecida nas redes sociais. Seus métodos e principais integrantes já foram identificados, e alguns estão sendo inclusive investigados. São conhecidas também as ações da extrema-direita norte-americana e de outros países, desde o final da II Guerra Mundial. E há a inacreditável, surreal invasão do Capitólio nos Estados Unidos, estimulada publicamente pelo ex-presidente Trump – o melhor exemplo recente da insanidade que a extrema-direita é capaz, ao incitar civis armados a “ações diretas” violentas, que resultam em destruição e mortes.
Milton Pomar é coordenador do Setorial das Pessoas Idosas do PT-SC
Fonte: pt.org.br