Fome atinge mais lares liderados por mulheres negras no Brasil

 Fome atinge mais lares liderados por mulheres negras no Brasil
Diante da pandemia do Coronavírus, sem dinheiro, sem acesso ao mercado de trabalho e com a redução do auxílio emergencial no país, a alimentação básica em lares liderados por mulheres negras está comprometida. O cenário apontado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) retrata o desespero feminino por causa do gênero e da cor/raça.

fome atinge 11,1% dos lares chefiados por mulheres contra 7,7% de lares liderados por homens. Pelo menos, 35,9% das mulheres provedoras da alimentação no Brasil são mães solo e vivenciam insegurança alimentar.

O estudo identificou ainda que o fator raça/cor influencia no quadro da fome com taxa de 10,7% das casas com mulheres negras. Lares com mulheres brancas apontam índice de 7,5%.

Com o auxílio aprovado pelo governo federal na média de R$ 250, o abastecimento do alimento na mesa do brasileiro é ínfimo. Para a secretária Nacional de Mulheres do PTAnne Karolyne, o auxílio emergencial aprovado não será decisivo para mudar esse cenário (ouça no áudio abaixo).

“Enquanto a questão racial e de gênero não for parte da política de governo, continuaremos a ser alvos”, destaca.

Aumento da pobreza

Maria das Graças Xavier, mulher negra, bacharel em Direito, especialista em direitos humanos e políticas públicas, e coordenadora da União Nacional por Moradia Popular, relata que a grande maioria das mulheres negras vivem em favelas, em cortiços, em situação de rua ou emprestadas em casas de parentes. “Com a pandemia, a grande maioria delas que trabalham como domésticas, diaristas, camelôs, cuidadoras ou na educação, o salário reduziu por não poderem sair para trabalhar. O novo auxílio não dá para comprar alimentos para os filhos, pagar luz e água. É humanamente impossível, conta.

Conforme Maria das Graças (ouça no vídeo abaixo), muitas mulheres estão trabalhando com reciclagem, catando latinhas ou papelão na rua para poder sobreviver.

A União dos Movimentos de Moradia e União Nacional por Moradia Popular fazem campanha de doações para ajudar essas famílias com liderança feminina.

Superada em 2013, fome voltou após o golpe

A rede reconhece que a fome é um problema histórico no Brasil, mas ressalta que houve um momento em que fomos capazes de combatê-la. “Entre 2004 e 2013, os resultados da estratégia Fome Zero, aliados a políticas públicas de combate à pobreza e à miséria, se tornaram visíveis”, escreve a Penssan, referindo-se ao conjunto de medidas contra a fome implementada pelo presidente Lula já no primeiro mandato.

“A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2004, 2009 e 2013, revelou uma importante redução da insegurança alimentar em todo o país. Em 2013, a parcela da população em situação de fome havia caído para 4,2% — o nível mais baixo até então. Isso fez com que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura finalmente excluísse o Brasil do Mapa da Fome que divulgava periodicamente”, acrescenta a entidade.

Após o golpe de Estado que derrubou a presidente Dilma Rousseff, a fome avançou a passos largos no Brasil, mostram os dados. “De 2018 a 2020, como mostra a pesquisa VigiSAN, o aumento da fome foi de 27,6%. Ou seja: em apenas dois anos, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave saltou de 10,3 milhões para 19,1 milhões. Nesse período, quase 9 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a ter a experiência da fome em seu dia a dia”, afirma a Penssan.

Da Redação, com informações da Penssan e da Carta Capital.

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