Lula e Haddad, os candidatos do PT

 Lula e Haddad, os candidatos do PT

Por Emir Sader, no facebook

Lula vive uma situação similar à que viveu em 2018. Condenado, aguarda um desfecho da sua situação jurídica, para tomar uma decisão definitiva. Mas o Brasil vive uma situação diferente e isso pode fazer toda a diferença das razões e dos dilemas do Lula.

Ele sabe que as situações são similares, mas com varias diferenças significativas. Em 2018 ele, mesmo preso e condenado, era favorito para ganhar no primeiro turno – como evidenciavam as pesquisas. Estirou ao máximo o prazo, na expectativa que tivesse sua situação mudada e ser candidato. Quando considerou que os prazos tinham se esgotado, lançou o Haddad como candidato.

Agora a expectativa é formalmente a mesma, mas em um cenário politico bem diferente. A desmoralização da Lava Jato e do Moro, os desgaste da imagem do Bolsonaro, o clima politico e jurídico é muito distinto, com um consenso que chega a setores insuspeitos de reconhecer não apenas sua inocência, mas também que houve uma operação expressa para impedir sua candidatura. O que é uma forma de reconhecer que houve um golpe contra o PT e que a eleição do Bolsonaro foi produto de uma gigantesca manipulação. E que, assim, não vivemos numa democracia, que tem que ser restaurada. (Ao contrario da afirmação do juiz do STF, Luis Roberto Barroso, repetida à exaustão na mídia, de que “vivemos numa democracia muito consolidada”.) Claro que falta que essas pessoas atem os cabos, para que o raciocínio seja completado, mas o consenso é favorável ao Lula, independentemente das decisões do Judiciário.

Mas a posição do Lula é, no essencial, a mesma que terminou adotando em 2018: ele tem preferencia para ser candidato, só deixaria de ser, caso fosse impedido. Sabe que a parada é dura e decisiva em 2022 e está disposto a enfrenta-la, caso tenha recuperados seus direitos políticos.

Lula tira também conclusões da experiência de 2018. Não acha que tenha o direito de deixar o PT pendente de uma situação similar àquela. Dai ter dito ao Haddad para ocupar seus espaços, para não ficar esperando, pendente da situação do Lula, que se estira muito. Ainda que tenha um tempo muito mais longo, vai se espichando.

Ele sai escaldado daquela situação e prefere não repeti-la. Está com toda a disposição de ir à luta. Quando lhe falam de voltar às ruas assim que puder, reage com entusiasmo. Tem muita consideração e confiança no Haddad. Da a impressão que, caso seja ele o candidato e volte a ser presidente do Brasil, o Haddad terá um lugar essencial no seu governo. E que, se ele de fato, não puder ser candidato, apoiará o nome do Haddad.

A diferença está na presença gigantesca da imagem do Lula, que o levava a ser amplamente favorito em 2018 e as dificuldades da candidatura do Haddad. Claro que Haddad foi vitima da operação monstruosa que incluiu a mamadeira de piroca, a fuga dos debates, com a complacência do Judiciário e da mídia.

Bolsonaro já demonstrou, no embate para o Parlamento, em que se valeu de todos os recursos para derrotar seus adversários no campo da direita – Doria e Maia, depois de ter conseguido marginalizar o Moro -, para demonstrar que a batalha de 2022 será a mãe de todas as batalhas.

A esquerda deveria fazer tudo para contar com o Lula, o melhor candidato para enfrentar o Bolsonaro. Se a esquerda tem consciência que o seu objetivo maior é derrotar o Bolsonaro, para restaurar a democracia e retomar um modelo de desenvolvimento com distribuição de renda, tem que lutar pela candidatura do Lula como um objetivo central.

Todos na esquerda temos que estar à altura dos desafios que definirão o destino do Brasil por muito tempo. Nenhuma surpresa e nenhuma duvida de que o PT estará à altura das suas responsabilidade e terá candidatura própria no primeiro turno, já junto a outras forcas e votará no candidato de esquerda no segundo turno. Que o PT deve estar presente no segundo turno, com Lula ou com Haddad. Da nossa capacidade de unirmos todas nossas forcas, de escolhermos nossas melhores alternativas e de nos unirmos no segundo turno, depende nossa vitória.

As experiências de recomposição da esquerda e retorno ao governo, na Argentina e na Bolívia, nos permitem tirar lições de como derrotar a judicialização como nova estratégia da direita. Na Argentina, Cristina optou por ter um mandato de senadora para se defender, preferiu a candidatura de Alberto Fernandez, que teria melhores chances de vitória eleitoral e de condições de governar, ficando ela como vice e presidenta do Senado. A escolha de Alberto Fernandez tem um caráter distinto da de Fernando Haddad.

Na Bolívia, da mesma forma que a Cristina, Evo também foi vitima da judicialização, como o Lula. Foi impedido de ser candidato, condenado, até teve limitações de participar da campanha eleitoral. Uma vitória esmagadora do Luis Arce e do Mas, impediu qualquer tentativa de fraude.

Foram as forças que governaram o pais com o maior sucesso – o kirchnerismo, o Mas, – que comandam esse retorno, demonstrando que é fundamental para a vitória retomar a continuidade dos governos anteriores, mesmo se com outros candidatos. E é preciso ter uma vitória eleitoral inquestionável – como as que tiveram Alberto Fernandes e Lucho Arce – como condição de reversão da judicialização, tendo sempre o Judiciário e a mídia contra a democratização e a volta da esquerda ao governo.

No Brasil, o campo da direita dá todas as demonstrações que, mesmo com contradições com o Bolsonaro, em ultima instancia apoiariam – senão no primeiro turno, pelo menos no segundo – sua candidatura, se é a única que pudesse impedir o retorno do PT ao governo e a manutenção do modelo neoliberal.

Dai por que Lula deve ser o nosso candidato. Quem pensa no Brasil, no resgate do pais desta crise brutal que vivemos, tem que tomar a possibilidade da candidatura do Lula como seu objetivo maior. Bolsonaro hoje não é mais um livre atirador, tem que responder pelo fracasso do seu governo. Foi assim que Trump foi derrotado, pela transformação da campanha eleitoral em um referendo sobre ele, aglutinando a todos os que rechaçam ao ex-presidente.

No Brasil, temos que contar com o sucesso dos governos do PT, combater as formas de desconstrução desses governos na memoria das pessoas, além de contar com o Lula, o único grande líder nacional no Brasil. E contar com o caudal de votos de apoio que isso representa, antes de tudo dos votos no nordeste, que permitiram a vitória da Dilma em 2014, mesmo com uma grande derrota no centro sul e no sul.

É Lula quem representa esse patrimônio e esse gigantesco apoio potencial. Temos que, assim que a quarentena o permitir, lançar a candidatura do Lula – sua força de massas, nas ruas, na campanha pela seu direito a ser candidato e como candidato à presidência. São fatores que incidem nas próprias decisões do Judiciario que, deixado a si mesmo, sempre se valerão da judicialização para, aliados aos militares, ao grande empresariado e à mídia – impedir o retorno do PT ao governo. Os próprios elogios desesperados à funesta Lava Jato, sobre seus méritos, significam reconhecimento do serviço prestados à direita pela condenação do Lula e do PT, associados à corrupção.

No campo das ideias, desconstruir essas falácias da direita, especialmente na mídia. No campo politico, sair às ruas com a candidatura do Lula, para voltar a mobilizar todos os apoios que podemos ter e outros novos, mostrando que há alternativas democráticas e seguras para os destinos do Brasil. E, no campo jurídico, como resultante dessas acoes, a recuperação dos direitos políticos plenos do Lula.

De conseguirmos fazer da disputa eleitoral uma disputa o mais democrática possível, tendo o Lula como candidato e mobilizando a todas as forcas politicas e setores sociais que rejeitam o bolsonarismo, depende a vitória da democracia hoje no Brasil. Podendo contar com o Lula chegaremos ao setores mais marginalizados hoje da vida politica brasileira, como Lula foi capaz de retomar nas Caravanas. Hoje precisamos de Caravanas da Democracia e da Esperança, para regatar o Brasil.

Fonte: pensarpiaui.com

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