Eficácia da vacinação depende de campanha nacional, dizem especialistas
Após a divulgação, pelo Instituto Butantan de que vacina CoronaVac tem eficácia global de 50,4%, integrantes da comunidade científica defenderam sua aplicação por meio de uma campanha nacional coordenada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Especialistas criticam suspeitas infundadas sobre a eficácia da vacina, levantadas inclusive pelo presidente Jair Bolsonaro que, em mais um ato de sabotagem contra o combate à pandemia, ironizou a eficiência do imunizante. Para eles, a vacina é segura mas depende uma cobertura ampla para garantir a proteção da população brasileira.
“Não há justificativa nenhuma para não usar uma vacina que é segura, é eficaz, é adequada para o nosso país, pode reduzir a gravidade dos casos e, consequentemente, as mortes”, ressaltou a presidenta do Instituto Questão de Ciência, Natália Pasternak, após a coletiva de anúncio dos resultados, na terça-feira (12).
“Não é o grau de eficácia da Coronavac que tem de ser o foco das discussões agora, mas sim o seu alcance”, afirma a presidenta Nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). “Quanto mais gente vacinada maior o grau de imunização. Precisamos de uma grande campanha pública para incentivar a vacinação. A vacina é segura e é a que temos neste momento”, observa Gleisi.
A presidenta do PT criticou ainda teses negacionistas sobre a segurança da vacina, como a patrocinada por Bolsonaro, que defende a não obrigatoriedade de uma vacinação em massa. “Não caiam nas fake news do bolsonarismo sobre a CoronaVac, alerta Gleisi. “A vacina tem boa eficácia e de todos os voluntários vacinados, nenhum teve a forma grave da covid-19 e nem precisou de internação. Tiveram, no máximo, sintomas leves. Eles não contam isso porque jogam no time do negacionismo”, denunciou.
Especialistas lembram que a aplicação da vacina é essencial porque impede o surgimento de casos graves, internações e óbitos em decorrência da doença. Isso porque os resultados dos testes demonstraram que o efeito da vacina é maior para casos que necessitam de atendimento médico e internação. Além disso, não foram registrados eventos adversos graves relacionados à aplicação do imunizante.
Debate sobre eficácia
Os cientistas também entraram no debate sobre a eficácia da vacina e derrubaram o argumento das campanhas antivacina de que o imunizante não seria adequado por ter uma eficiência considerada “baixa”. Um exemplo são as dezenas de vacinas no país hoje, que têm eficácia semelhante à da CoronaVac.
“A vacina de rotavírus tinha eficácia de 80% para mortes e hospitalizações, e de 40 a 50% para prevenir diarreia”, disse o presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Safadi, também presente à coletiva. “A da coqueluche, utilizada há décadas, também é muito similar, previne com muita eficiência formas graves da doença. A própria vacina da gripe, que apresenta eficácia menor do que essa (da Covid-19), também propiciou impactos substanciais”, afirmou.
Papel do SUS
Para que a vacinação seja ampla e universal, no entanto, será necessário o fortalecimento de um dos únicos sistemas públicos do mundo capaz de lidar com o tamanho do desafio logístico: o Sistema Único de Saúde (SUS). No final de semana, o Ministério da Saúde anunciou que “brasileiros de todo o país receberão a vacina simultaneamente, dentro da logística integrada e tripartite, feita pelo Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde”. A pasta afirmou que fechou um acordo com o Butantan para garantir a distribuição das doses por meio do SUS.
A sociedade civil organizada, especialmente as entidades de saúde, cobra da pasta um plano nacional de vacinação, com data de início, cronograma para grupos prioritários, assim como a obtenção de todos os insumos necessários, como seringas, frascos e agulhas. E, ao contrário da estratégia de sabotagem adotada por Bolsonaro, o ministério deverá incentivar as imunizações por meio de uma campanha para obter apoio da população.
“Qualquer vacina que esteja disponibilizada precisa de adesão da população em geral para ser eficiente”, observou Rafael Lopes, pesquisador do Instituto de Física Teórica da Unesp e integrante do Observatório Covid-19 BR. “O prognóstico é que essa vacina ajudaria muito o sistema de saúde a evitar sofrimento e mortes. Com a maior adesão esses benefícios só tendem a aumentar. Adesão depende de políticas públicas como uma boa campanha de vacinação”, advertiu.
Da Redação, com informações de ‘O Globo’
Fonte: pt.org.br