Lula: “O povo não quer armas, quer empregos e salários”
Em entrevista à Rádio Con Vos, da Argentina, o ex-presidente Lula alertou que o Brasil tem, pela primeira vez na história, um governo com perfil miliciano. “Temos um governo que adora organizar milicianos, um governo que gosta de trabalhar com milicianos”, disse. Aos argentinos, Lula esclareceu que a principal preocupação do atual governo é facilitar o uso de armas. Ele destacou, no entanto, que “o povo não quer armas, nem bala, quer trabalho, estudar, quer salários, quer viver em paz”.
“ Bolsonaro não disse ao que veio”, afirmou Lula, questionado sobre a situação do país diante da pandemia. “O governo nada faz para enfrentar a crise sanitária e a crise financeira”, destacou. “Bolsonaro e sua família só produzem crise institucional, crise política, atacam as instituições e ofendem a sociedade brasileira”. O Brasil, disse Lula aos argentinos que o Brasil merece “um presidente mais sensível, que gostasse de democracia, que gostasse do povo”. Para Lula, “a única coisa que Bolsonaro sabe fazer é elogiar as loucuras do presidente Trump”.
Negação da política
Ao ser perguntado sobre a Lava Jato e o juiz Sérgio Moro, Lula responsabilizou a operação pela eleição de Bolsonaro. “Bolsonaro é resultado da negação da política”, afirmou Lula, citando a participação de organismos estrangeiros e o apoio da mídia nacional. “O resultado na Alemanha foi Hitler, na Itália foi Mussolini, aqui foi Bolsonaro”, sentenciou. Para Lula, o Brasil tem um governo fascista, neoliberal que adota políticas que os líderes citados adotaram em seus países.
“Moro não atuou como juiz, mas como um agente político, subordinado ao FBI, ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, para me tirar das eleições”, respondeu Lula sobre o papel da Lava Jato. O ex-presidente também disse que a operação funcionou com uma quadrilha para tirar dinheiro de empresários e da Petrobras. “A Lava Jato atuou como um poder paralelo, sem respeitar nem o STF, com suporte de todas as televisões e jornais”, destacou. Lula alertou que Moro renunciou para concorrer em 2022, com suporte de setores da mídia que tenta posicioná-lo em oposição a Bolsonaro.
Radical pela igualdade
Lula também alertou para a existência de setores que criticam Bolsonaro sem questionar a política econômica. “Embora critiquem Bolsonaro, eles não criticam o modelo econômico”, segundo Lula, voltado “para destruir todos os direitos dos trabalhadores e privatizar todas as empresas públicas”. Lula citou a Petrobras, a indústria de energia, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o BNDES, segundo ele, responsáveis historicamente pelo desenvolvimento do Brasil. “É uma demonstração de que não tem nenhum modelo de desenvolvimento”, concluiu.
Ao final da entrevista, Lula lembrou que muitos estranharam que ele tenha “saído da cadeia muito radical”. “Sai mais radical, que é ir na raiz dos problemas, a conquista da igualdade”, afirmou Lula. “Não é possível a força do mundo financeiro na economia, onde meia dúzia tenha mais dinheiro do que 4 bilhões de seres humanos”. Para o ex-presidente, é preciso construir alternativas para enfrentar o desemprego e a fome no pós-pandemia.
Fonte: pt.org.br