Fome, ela está voltando ao Brasil
A fome mundial vai aumentar por conta do novo coronavírus, segundo novo relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) na úlltima segunda-feira (13). O documento informa que a crise econômica provocada pela pandemia da Covid-19 causou perda de renda, aumento de preços dos alimentos e interrupção das cadeias de suprimentos.
Desta forma, a recessão global pode levar à fome entre 83 a 132 milhões novas pessoas nos próximos anos, em um quadro em que mais de 690 milhões de pessoas enfrentaram essa situação em 2019. O número mostra que novas 60 milhões de pessoas passaram a sofrer com a desnutrição em um período de cinco anos.
Em maio deste ano, o economista Daniel Balaban afirmou que, com a pandemia do novo coronavírus e seus efeitos econômicos, o Brasil está voltando ao Mapa da Fome. A estimativa é de que cerca de 5,4 milhões de pessoas para a extrema pobreza. O total chegaria a quase 14,7 milhões de pessoas até o fim de 2020, ou cerca de 7% da população, segundo estudos do Banco Mundial.
No mundo, a pandemia pode levar cerca de 130 milhões de pessoas no mundo para a extrema pobreza e dobrar o número de habitantes com fome crônica.
“O Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014, mas agora está caminhando a passos largos para voltar”, disse em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo o representante da ONU.
Balaban destaca que o Brasil está hoje com um número muito alto de pessoas em extrema pobreza – que ganham menos de US$ 1,90 por dia. São 9,3 milhões de pessoas, segundo dados de 2018. A estimativa agora é que, por conta dos efeitos econômicos, mais 5,4 milhões deverão entrar na extrema pobreza, de acordo com o Banco Mundial.
Crítico da situação atual, o representante da ONU vê como “grande drama” o fato de que “não há uma unicidade, um comando que lidere o Brasil como um todo para sair dessa pandemia”. “O governo federal tem uma linha difusa, não sabe se apoia ou não a Organização Mundial da Saúde (OMS), se apoia a quarentena ou não. Isso fica muito complicado”.
No Brasil, milhões de trabalhadores em situação de pobreza, sem recursos para se protegerem durante o necessário período de distanciamento social, perderam sua renda devido à pandemia. Apenas 10% do auxílio financeiro prometido pelo governo federal aos trabalhadores e às empresas, via o Programa Emergencial de Suporte ao Emprego (PESE), foi distribuído até junho. Enquanto isso, grandes empresas obtiveram mais benefícios do governo do que trabalhadores e micro e pequenas empresas. Ainda, 47,9% do montante destinado ao auxílio emergencial às pessoas em situação de vulnerabilidade foi distribuído até início de julho.
Mais pessoas morrerão de fome no mundo do que de Covid-19, alerta Oxfam
Até 12 mil pessoas podem morrer por fome diariamente, até o final de 2020, devido às consequências da pandemia de Covid-19 – mais do que pela doença em si –, alerta a Oxfam no informe “O Vírus da Fome: Como o coronavírus está potencializando a fome em um mundo faminto” lançado no dia 8 de julho.
O Brasil está entre os prováveis epicentros da fome no mundo, juntamente com Índia e África do Sul, onde milhões de pessoas estão à beira da grave insegurança alimentar e pobreza extrema.
“Os riscos de disparada da fome no país são imensos quando o Estado brasileiro falha em garantir as condições mínimas de sobrevivência a todas as pessoas impactadas pela pandemia. Não basta criar programas de proteção, o que muda a vida das pessoas é fazer os recursos chegarem na ponta”, diz Maitê Gauto, Gerente de Programas e Campanhas da Oxfam Brasil.
Mulheres são as que mais sofrem com a fome
No mundo, as mulheres, que em geral desempenham papel crucial como trabalhadoras rurais e produtoras de alimentos, são as que mais correm risco de passar fome. Elas já são vulneráveis devido à discriminação sistêmica, que faz com que elas recebam menos do que homens pelo mesmo trabalho e detenham menor posse de terra do que eles. As mulheres também são maioria no grupo de trabalhadores informais, que no Brasil representa cerca de 40% da população economicamente ativa e que estão sofrendo as maiores consequências econômicas da pandemia.
Fonte: Brasil 247