Brasil e EUA: juntos no sofrimento e sob o jugo de dois estúpidos na liderança política
Na maior crise sanitária da história da humanidade em 70 anos, os dois gigantes das Américas sofrem pela omissão criminosa de Bolsonaro e Trump. Ambos dividem seus países, desrespeitam a democracia e ameaçam usar a força contra seus povos, causando espanto na comunidade internacional, na imprensa mundial e também nas Nações Unidas. As instituições democráticas das duas nações estão sendo severamente testadas.
O presidente é acusado de dividir o país, desrespeitar minorias, atacar ambientalistas e cientistas, além de constranger adversários com palavrões. Sua condução à frente da Nação no enfrentamento à pior pandemia da história é contestada por especialistas em saúde pública. Centenas de milhares estão doentes, a morte tem feito milhares de vítimas e não para de subir, enquanto ele insiste em reabrir os negócios para atender a outros interesses.
E tudo pode piorar. A insistência do presidente em usar um medicamento para tratar doentes do Covid-19, a hidroxicloroquina, cuja eficácia não está comprovada pela ciência, parece atender apenas a um capricho doentio de uma personalidade teimosa. Obtuso e encrenqueiro, o líder da Nação bate boca com jornalistas todos os dias e agora quer usar a força para reprimir protestos daqueles que condenam o fracasso de sua administração.
Sim, o leitor está certo. Estamos falando de Jair Bolsonaro. Sim, você enxergou um retrato perfeito de Donald Trump. Os presidentes das duas maiores nações das Américas são almas gêmeas. Ambos estão conduzindo seus países em frangalhos, ampliando a divisão política e fomentando ataques à democracia, agora ameaçando usar a força contra quem protesta nas ruas.
O primeiro é um tenente indisciplinado que se tornou político profissional sem nunca ter dirigido um estábulo, mas ganhou fama usando a mídia e gritando impropérios ao defender a ditadura militar. O outro é um empresário suspeito de negócios escusos, cuja carreira ganhou relevância na mídia pelos escândalos até virar um político montado em dinheiro, numa ambição sem limites e na própria vaidade pessoal.
Os dois são megalomaníacos, mentirosos que acreditam nas próprias lorotas e mantém a fé cega na força da sua própria estupidez. Ambos são orientados por um mesmo conselheiro: Steve Bannon, um ideólogo de extrema-direita que acredita que os fins justificam os meios, mesmo que para isso tenha de detonar o povo e a democracia.
Últimos atos
Donald Trump posou na segunda-feira com uma bíblia na mão diante de uma igreja perto da Casa Branca, chamou os manifestantes que estão nas ruas de mais de uma centena de cidades dos EUA de terroristas e ameaça usar a Guarda Nacional contra a população, tachando de idiotas os governadores da oposição que comandam estados. Um dia antes, Bolsonaro subiu num cavalo e foi em direção a manifestantes que pedem o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso. Hoje, repetiu Trump e acusou manifestantes de terrorismo.
Em editorial, o ‘Washington Post’ disse que Trump aproxima os EUA da anarquia. As fotos de manifestantes nas ruas de cidades como Nova York, Chicago, Los Angeles, Washington e outras dezenas de cidades estão espalhadas nas capas dos jornais de todo o planeta. “Este país precisa desesperadamente de um líder que saiba a diferença entre ser forte e ser duro”, apelou o ‘Washington Post’, na edição desta quarta-feira. Em outro artigo no mesmo jornal, o presidente foi condenado por “profanar a Igreja para propósitos políticos sujos”. Outro texto classifica como “obsceno o uso da Bíblia por Trump”.
O ‘Post’, um dos mais influentes da América, na edição desta quarta-feira, traz um retrato sombrio do Brasil, que vive à beira de uma crise constitucional por conta da investigação sobre notícias falsas que têm como alvo bolsonaristas. A foto que ilustra a reportagem é de policiais atirando contra manifestantes na Avenida Paulista, no último domingo.
Mas o retrato de Bolsonaro em cima de um cavalo também ganhou as páginas da mídia global. O alemão ‘Frankfurter Allgemeine Zeitung’ diz que o país está perto do caos. A reportagem traz foto do presidente sobre um cavalo e diz que o medo de uma ditadura está crescendo na oposição. Mas relata que o povo está indo às ruas em reação aos sinais de um autoritarismo preocupante. “Uma manifestação na capital, Brasília, foi perturbadora na noite de sábado. Vestidos de preto, com máscaras de caveira e tochas, três dezenas de membros do grupo ‘300 do Brasil’, classificado como extremista, foram ao Supremo Tribunal Federal”, descreve.
A reportagem do jornal alemão cita a mensagem do ministro Celso de Mello, do STF, alertando colegas para a ameaça de o país mergulhar em uma ditadura militar. “Ele chega ao ponto de comparar a situação atual no Brasil com a República de Weimar”, escreve o correspondente Tjerk Brühwiller. “‘É necessário resistir à destruição da ordem democrática para impedir o que aconteceu na República de Weimar’, escreveu Mello. O ‘ovo de serpente’ ameaça se abrir”.
Ameaças de ditaduras
As semelhanças entre EUA e Brasil continuam ganhando espaço na imprensa internacional. Bolsonaro tem sido chamado de “Trump Tropical”. E Trump já pode ser chamado de “Bolsonaro do Norte”. Nesta quarta-feira, 3, o comportamento dos dois chefes de Estado sofreu ataques na mídia global pela condução da crise sanitária, que está sob críticas de organismos multilaterais, como as Nações Unidas e a Organização Mundial de Saúde. O espasmo autoritário de Trump, com o uso da Guarda Nacional para conter manifestações, causou inquietação também entre intelectuais, O escritor Salman Rushdie alertou: “Eu vi ditadores subirem e caírem. Cuidado, América”.
“Estamos tão intrigados com o comportamento desse homem, tão acostumados com suas mentiras, com sua auto-estima inesgotável, com sua estupidez, que talvez sejamos tentados a pensar nisso como apenas mais um dia no Trumpistão”, escreveu o escritor britânico de origem indiana, em artigo publicado no ‘Washington Post’. “Mas desta vez, algo diferente está acontecendo. A revolta que começou com a morte de George Floyd não está fracassando, mas crescendo”. “Trump está levando a democracia dos EUA ao ponto de ruptura”, alertou em outro artigo o jornalista Francisco Toro, também no ‘Washington Post’. “Eu vi o que acontece depois na Venezuela”.
Em outro artigo publicado na edição desta quarta no ‘New York Times’ o alvo é Bolsonaro. Diz que o presidente brasileiro é bizarro e perigoso. E também traz a foto do líder brasileiro em cima de um cavalo. “Muitos esperam que o mundo após a pandemia siga um de dois caminhos: maior autoritarismo, com controle de cima para baixo e vigilância centralizada, ou poder distribuído, com base na solidariedade e no atendimento das necessidades”, diz o texto assinado por Miguel Lago e Alessandra Orofino. “Mas Bolsonaro prova que o autoritarismo pode existir mesmo quando o poder está disperso”.
Em outro artigo, no jornal inglês ‘The Guardian‘, o jornal destaca que Bolsonaro conseguiu destruir a imagem do país, mas ainda não partiu a sua alma. O texto é da jornalista Eliane Brum: “O presidente fomentou o ódio, subestimou o coronavírus e desencadeou um colapso financeiro. Mas há uma resistência crescente”. Na site ‘The Globalist‘, artigo mostra que Trump e Bolsonaro são almas gêmeas. “Da pandemia, seu ódio à mídia e ao meio ambiente, os paralelos entre os presidentes dos EUA e do Brasil são surpreendentes”, escreve César Chelala.
Semelhanças e diferenças
O jornal inglês The Times, um dos mais tradicionais do Reino Unido, traz perfil de Bolsonaro, chamado de “Trump dos Trópicos”, com direito a vídeo, publicado nesta quarta no canal do diário britânico no YouTube. A comparação dos dois chefes de Estado foi também tema de reportagem da TRT, emissora de tevê da Turquia, exibida na noite desta quarta-feira no país.
Mas se Bolsonaro e Trump testam os limites das instituições nos dois países, a democracia na América parece mais resistente. A diferença básica é que as instituições nos Estados Unidos funcionam. O chefe do Pentágono rompeu nesta quarta-feira com Trump sobre o uso de militares em serviço ativo. Ou seja, não vai colocar soldados para atacar a população. “A opção de usar forças ativas em uma função de aplicação da lei deve ser usada apenas como último recurso”, disse o secretário de Defesa, Mark Esper. Ele se negou a apoiar a Lei da Insurreição, que permitiria a Trump usar a força para reprimir protestos.
Aqui, o vice-presidente da República, General Hamilton Mourão, ameaça as manifestações realizadas em capitais como Manaus, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, nos últimos quatro dias. Ele diz que é intolerável o vandalismo, ações violentas desencadeadas aqui e ali, sem maiores transtornos, apesar dos prejuízos ao patrimônio público e privado.
Como Trump, Mourão não é explícito mas a ameaça de uso da força contra o povo está presente no artigo “Opinião e princípios”, publicado nesta quarta, no jornal ‘O Estado de S.Paulo’. Nenhuma palavra do militar sobre outro tipo de ataques de manifestações, Como aquelas dirigidas contra as instituições democráticas, como o Congresso e o STF, que o bolsonarismo sonha em fechar as portas.
Da Redação